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ViolĂȘncia no namoro: o amor nunca subtrai!

  • Foto do escritor: Assoc. PediĂĄtrica Viana
    Assoc. PediĂĄtrica Viana
  • 14 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura

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O estabelecimento de laços entre pessoas Ă©, na sua essĂȘncia, um comportamento natural e racional do prĂłprio ser humano, que se pode assumir de forma positiva ou negativa, sendo que, nesta Ășltima, o conflito Ă© parte integrante. A violĂȘncia surge, sobretudo aos olhos de quem a pratica, como estratĂ©gia de resolução desse mesmo conflito.

A adolescĂȘncia Ă© considerada um perĂ­odo crĂ­tico onde se começam a formar as relaçÔes extrafamiliares e em que o jovem faz esforços para ganhar a sua autonomia e definir a sua identidade. Esta Ă© tambĂ©m uma fase de construção da personalidade, que se vendo confrontada com comportamentos menos corretos, pode conduzir Ă  sua legitimação. O namoro integra o compromisso, interação futura e a intimidade fĂ­sica, sendo estes os trĂȘs componentes que constituem a base da relação de intimidade entre jovens.

No seio destas relaçÔes de intimidade tambĂ©m nos deparamos com a prĂĄtica de violĂȘncia, ou seja, comportamentos que visam assumir o poder na relação, por forma a magoar e/ou controlar o parceiro, podendo adquirir forma de violĂȘncia fĂ­sica (puxar os cabelos, dar estalos, empurrar, chutar
), psicolĂłgica (humilhar, insultar, desprezar, criticar), sexual (forçar prĂĄticas sexuais ou a beijar) ou stalking (perseguir, vigiar contactos).

Esta Ă© uma violĂȘncia que, usualmente, tende a nĂŁo se constituir uma ocorrĂȘncia isolada, sendo que os episĂłdios violentos tendem a aumentar progressivamente ao nĂ­vel da frequĂȘncia e da severidade dos mesmos.

VĂĄrios estudos apontam que a qualidade dos relacionamentos estĂĄ intimamente ligada a circunstĂąncias individuais, relacionais e socioculturais, alertando para a importĂąncia que os padrĂ”es de vinculação vivenciados na infĂąncia representam no desenvolvimento de relaçÔes Ă­ntimas saudĂĄveis. Namorar Ă© importante para que os jovens e adolescentes compreendam o ajustamento comportamental e psicolĂłgico, para alĂ©m daquilo que aprendem no contexto de pares. Algumas variĂĄveis tĂȘm sido associadas a uma predisposição dos jovens Ă  violĂȘncia, designadamente:

  • Vitimação prĂ©via na infĂąncia/ exposição Ă  violĂȘncia interparental, por violĂȘncia direta ou indireta;

  • Presença de atitudes legitimadoras da violĂȘncia;

  • Consumos aditivos: ĂĄlcool e drogas;

  • Outros fatores intra e interpessoais, como baixa autoestima, depressĂŁo, reduzidas competĂȘncias comunicacionais.

O Estudo Nacional sobre a ViolĂȘncia no Namoro mostrou dados preocupantes, ao indicar que 58% dos jovens jĂĄ sofreram algum tipo de violĂȘncia nas suas relaçÔes atuais ou passadas e que, 67% do total destes jovens, aceitam com naturalidade pelo menos uma das formas de violĂȘncia na intimidade. Os dados sĂŁo claros ao mostrar que a violĂȘncia estĂĄ presente nas relaçÔes de intimidades juvenis, quer ao nĂ­vel experiĂȘncia vivida nos relacionamentos Ă­ntimos — com a vitimação entre 11% (fĂ­sica) e 34% (psicolĂłgica), quer pela legitimação e naturalização destes comportamentos (9% no que toca aos comportamentos de violĂȘncia fĂ­sica e 27% aos comportamentos de controlo).

Os rapazes destacam-se tambĂ©m como tendo maior tendĂȘncia para naturalizar comportamentos abusivos, em todas as formas de violĂȘncias contempladas pelo estudo (rapazes 34% vs raparigas 15%). Os comportamentos de controlo apresentam-se como os mais legitimados, por jovens de ambos os sexos (27%), sendo a proibição de vestir determinadas peças de roupa o comportamento mais legitimado (36%).


A romantização de atos associados Ă  perseguição ainda tem uma prevalĂȘncia significativa, sendo aceite sobretudo pelos rapazes (33%) comparativamente Ă s raparigas (17%).

Ao nĂ­vel da violĂȘncia nas redes sociais ou ciberviolĂȘncia, esta Ă© uma dimensĂŁo relativamente recente como ferramenta de prĂĄticas violentas nas relaçÔes de intimidade.

O alcance crescente da Internet, a rĂĄpida disseminação da informação mĂłvel e o uso generalizado das redes sociais tem levado a um aumento exponencial desta forma de violĂȘncia. Compreende o envio de mensagens e imagens de cariz sexual para seduzir ou fazer convites, sem o consentimento do outro, o controlo Ă  distĂąncia, a ameaça e difamação utilizando as novas tecnologias, entre outros.

A solução nĂŁo passa por proibir a utilização das novas tecnologias, mas sim por promover utilizaçÔes positivas e potencialmente benĂ©ficas destas novas ferramentas de comunicação, para trabalhos escolares / telescola, lazer e comunicar. É tambĂ©m imprescindĂ­vel identificar com mais clareza e sensibilizar para os seus perigos, assegurando uma melhor e maior proteção dos utilizadores. AliĂĄs, Ă© graças a estes meios tecnolĂłgicos que, no contexto atual de pandemia, nos sentimos mais prĂłximos daqueles com os quais, de outra forma, nĂŁo poderĂ­amos estar!


A elevada prevalĂȘncia da naturalização das situaçÔes de violĂȘncia descritas elucida-nos acerca de uma das pandemias do sec. XXI que tambĂ©m precisa urgentemente de uma “vacina”, podendo esta consistir numa intervenção com os jovens, o mais precoce e continuadamente possĂ­vel, no sentido de prevenir a violĂȘncia sob todas as formas.

É necessário que estejamos todos atentos!!!

A violĂȘncia no namoro pode apresentar um impacto significativo para a vĂ­tima ao nĂ­vel da sua saĂșde fĂ­sica e mental, resultando em diversos danos a curto e a longo prazo, tais como, disfunçÔes do comportamento alimentar, stress pĂłs-traumĂĄtico, perturbaçÔes emocionais, comportamentos sexuais de risco, entre outros.

Sensibilizar e alertar é crucial para educadores, docentes, pais, mães, encarregados de educação e para a sociedade em geral, tornando possível uma prevenção primåria a este nível.

Finalmente, Ă© pertinente referir que nĂŁo se pode desvalorizar a violĂȘncia sob qualquer forma, jĂĄ que esta tem repercussĂ”es a vĂĄrios nĂ­veis, e que desconstruir a aceitação destes comportamentos serĂĄ minimizar a probabilidade dos jovens se manterem em relaçÔes violentas e promover relaçÔes pautadas pelo respeito e igualdade.


VIOLÊNCIA nunca será um ato de AMOR!


Saber mais:

Autores:

Cåtia Juliana Silva, Helena Ramalho; Serviço de Pediatria da ULSAM

Joana Torres; PsicĂłloga e CriminĂłloga, docente na Universidade Fernando Pessoa



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