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  • Foto do escritorAssoc. Pediátrica Viana

Violência no namoro: o amor nunca subtrai!


O estabelecimento de laços entre pessoas é, na sua essência, um comportamento natural e racional do próprio ser humano, que se pode assumir de forma positiva ou negativa, sendo que, nesta última, o conflito é parte integrante. A violência surge, sobretudo aos olhos de quem a pratica, como estratégia de resolução desse mesmo conflito.

A adolescência é considerada um período crítico onde se começam a formar as relações extrafamiliares e em que o jovem faz esforços para ganhar a sua autonomia e definir a sua identidade. Esta é também uma fase de construção da personalidade, que se vendo confrontada com comportamentos menos corretos, pode conduzir à sua legitimação. O namoro integra o compromisso, interação futura e a intimidade física, sendo estes os três componentes que constituem a base da relação de intimidade entre jovens.

No seio destas relações de intimidade também nos deparamos com a prática de violência, ou seja, comportamentos que visam assumir o poder na relação, por forma a magoar e/ou controlar o parceiro, podendo adquirir forma de violência física (puxar os cabelos, dar estalos, empurrar, chutar…), psicológica (humilhar, insultar, desprezar, criticar), sexual (forçar práticas sexuais ou a beijar) ou stalking (perseguir, vigiar contactos).

Esta é uma violência que, usualmente, tende a não se constituir uma ocorrência isolada, sendo que os episódios violentos tendem a aumentar progressivamente ao nível da frequência e da severidade dos mesmos.

Vários estudos apontam que a qualidade dos relacionamentos está intimamente ligada a circunstâncias individuais, relacionais e socioculturais, alertando para a importância que os padrões de vinculação vivenciados na infância representam no desenvolvimento de relações íntimas saudáveis. Namorar é importante para que os jovens e adolescentes compreendam o ajustamento comportamental e psicológico, para além daquilo que aprendem no contexto de pares. Algumas variáveis têm sido associadas a uma predisposição dos jovens à violência, designadamente:

  • Vitimação prévia na infância/ exposição à violência interparental, por violência direta ou indireta;

  • Presença de atitudes legitimadoras da violência;

  • Consumos aditivos: álcool e drogas;

  • Outros fatores intra e interpessoais, como baixa autoestima, depressão, reduzidas competências comunicacionais.

O Estudo Nacional sobre a Violência no Namoro mostrou dados preocupantes, ao indicar que 58% dos jovens já sofreram algum tipo de violência nas suas relações atuais ou passadas e que, 67% do total destes jovens, aceitam com naturalidade pelo menos uma das formas de violência na intimidade. Os dados são claros ao mostrar que a violência está presente nas relações de intimidades juvenis, quer ao nível experiência vivida nos relacionamentos íntimos — com a vitimação entre 11% (física) e 34% (psicológica), quer pela legitimação e naturalização destes comportamentos (9% no que toca aos comportamentos de violência física e 27% aos comportamentos de controlo).

Os rapazes destacam-se também como tendo maior tendência para naturalizar comportamentos abusivos, em todas as formas de violências contempladas pelo estudo (rapazes 34% vs raparigas 15%). Os comportamentos de controlo apresentam-se como os mais legitimados, por jovens de ambos os sexos (27%), sendo a proibição de vestir determinadas peças de roupa o comportamento mais legitimado (36%).


A romantização de atos associados à perseguição ainda tem uma prevalência significativa, sendo aceite sobretudo pelos rapazes (33%) comparativamente às raparigas (17%).

Ao nível da violência nas redes sociais ou ciberviolência, esta é uma dimensão relativamente recente como ferramenta de práticas violentas nas relações de intimidade.

O alcance crescente da Internet, a rápida disseminação da informação móvel e o uso generalizado das redes sociais tem levado a um aumento exponencial desta forma de violência. Compreende o envio de mensagens e imagens de cariz sexual para seduzir ou fazer convites, sem o consentimento do outro, o controlo à distância, a ameaça e difamação utilizando as novas tecnologias, entre outros.

A solução não passa por proibir a utilização das novas tecnologias, mas sim por promover utilizações positivas e potencialmente benéficas destas novas ferramentas de comunicação, para trabalhos escolares / telescola, lazer e comunicar. É também imprescindível identificar com mais clareza e sensibilizar para os seus perigos, assegurando uma melhor e maior proteção dos utilizadores. Aliás, é graças a estes meios tecnológicos que, no contexto atual de pandemia, nos sentimos mais próximos daqueles com os quais, de outra forma, não poderíamos estar!


A elevada prevalência da naturalização das situações de violência descritas elucida-nos acerca de uma das pandemias do sec. XXI que também precisa urgentemente de uma “vacina”, podendo esta consistir numa intervenção com os jovens, o mais precoce e continuadamente possível, no sentido de prevenir a violência sob todas as formas.

É necessário que estejamos todos atentos!!!

A violência no namoro pode apresentar um impacto significativo para a vítima ao nível da sua saúde física e mental, resultando em diversos danos a curto e a longo prazo, tais como, disfunções do comportamento alimentar, stress pós-traumático, perturbações emocionais, comportamentos sexuais de risco, entre outros.

Sensibilizar e alertar é crucial para educadores, docentes, pais, mães, encarregados de educação e para a sociedade em geral, tornando possível uma prevenção primária a este nível.

Finalmente, é pertinente referir que não se pode desvalorizar a violência sob qualquer forma, já que esta tem repercussões a vários níveis, e que desconstruir a aceitação destes comportamentos será minimizar a probabilidade dos jovens se manterem em relações violentas e promover relações pautadas pelo respeito e igualdade.


VIOLÊNCIA nunca será um ato de AMOR!


Saber mais:

 

Autores:

Cátia Juliana Silva, Helena Ramalho; Serviço de Pediatria da ULSAM

Joana Torres; Psicóloga e Criminóloga, docente na Universidade Fernando Pessoa



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