Sopro cardíaco: um som que nem sempre indica problema
- Assoc. Pediátrica Viana 
- 20 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

"O seu filho tem um sopro no coração"
É uma frase que muitos pais ouvem durante uma consulta de rotina ou até numa ida ao serviço de urgência:
Naturalmente, causa alguma apreensão. Afinal, o coração é um órgão vital, e qualquer referência a sons “anormais” pode soar assustadora. Mas será que um sopro é sempre sinal de problema cardíaco?
O que é, afinal, um sopro?
Durante a auscultação cardíaca com o estetoscópio, o médico ouve os sons do coração - os batimentos normais, mas também eventuais sons adicionais.
Um sopro cardíaco é justamente isso: um som extra, semelhante a um sopro ou murmúrio, causado pela passagem do sangue através do coração e dos seus vasos.
Este som pode surgir por vários motivos - alguns completamente inofensivos, outros associados a alterações da estrutura do coração.
Sopro inocente: comum e sem risco
Em pediatria, a grande maioria dos sopros ouvidos são chamados “inocentes” ou “funcionais”. Isto significa que o coração é estruturalmente normal, sem qualquer defeito, e que o som se deve apenas à forma como o sangue circula: com mais ou menos turbulência, em determinadas fases do crescimento.
Estes sopros não causam sintomas, não implicam limitações na atividade física, e não representam qualquer risco para a saúde.
É tão comum que se estima que mais de metade das crianças saudáveis apresente um sopro inocente nalgum momento da infância.
Sopros que aparecem apenas em certas situaçõesCuriosamente, há crianças que não têm sopros “permanentes”, mas em quem esse som aparece apenas em momentos em que o coração está a trabalhar mais depressa.
Por exemplo:
- Durante a febre 
- Após atividade física 
- Em situações de choro intenso ou ansiedade 
Nestes contextos, o organismo tem um aumento natural das necessidades metabólicas - precisa de mais oxigénio, mais nutrientes - e o coração responde acelerando os batimentos e aumentando o débito cardíaco. Esse maior fluxo de sangue pode gerar turbulência suficiente para se ouvir um sopro, mesmo sem haver qualquer anomalia.
Ainda assim, é importante referir que nem todos os sopros detetados durante a febre são inocentes, o contexto clínico completo deve sempre ser avaliado pelo médico.
E os sopros que não são inocentes?
Alguns sopros podem indicar alterações na estrutura do coração, como:
- Aberturas anormais entre cavidades cardíacas 
- Válvulas que não abrem ou fecham bem 
- Estreitamentos em vasos ou válvulas 
Estes casos, mais raros, são chamados sopros patológicos e requerem uma avaliação mais aprofundada - habitualmente com ecocardiograma (uma ecografia do coração) e seguimento por cardiologia pediátrica.
Como se distingue um do outro?
Através da auscultação cuidadosa, do contexto em que aparece e da avaliação clínica global da criança. Alguns sinais que podem levantar dúvidas e justificar avaliação adicional incluem:
- Sopro detetado em recém-nascidos 
- Cansaço excessivo durante as mamadas ou no exercício físico 
- Cianose (coloração arroxeada nos lábios ou unhas) 
- História familiar de doença cardíaca 
Nestes casos, o pediatra poderá encaminhar para cardiologia pediátrica para esclarecimento.
Conclusão:
Ouvir que o seu filho tem um sopro no coração pode ser inesperado e até assustador.
Com uma avaliação médica cuidada e informação clara, é possível distinguir o que é benigno do que precisa de atenção. Quando existem dúvidas ou sinais que justifiquem investigação, pode ser necessário realizar exames ou recorrer à cardiologia pediátrica. Mas em idade pediátrica, a maior parte dos sopros são sons inocentes num coração saudável.
Autores:
Cátia Juliana Silva, Mariana Branco, Serviço de Pediatria, ULSAM
Catarina Almeida, Sofia Granja, Serviço de Cardiologia Pediátrica, ULSSJ




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