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  • Foto do escritorAssoc. Pediátrica Viana

Obstipação Infantil: o que fazer?



O QUE É A OBSTIPAÇÃO?

A obstipação consiste na incapacidade de satisfazer o processo completo de defecação e é um distúrbio em que a criança tem movimentos intestinais infrequentes, defecação dolorosa ou passagem de fezes volumosas e de consistência dura, podendo associar-se a impactação ou incontinência fecal.


É uma entidade frequente em idade pediátrica, principalmente na idade pré-escolar, e tem elevado impacto na criança, adolescente e família. Uma intervenção inadequada pode resultar em retenção, com agravamento da obstipação e surgimento de consequências psicológicas.

QUAL O PADRÃO DEFECATÓRIO CONSIDERADO NORMAL?

De um modo geral o número médio diário de dejecções diminui desde o nascimento até aos 3-4 anos de idade:

  • Um recém-nascido de termo tem a primeira dejeção nas primeiras 48 horas de vida, ocorrendo mais tarde nos prematuros.

  • Durante os primeiros meses de vida o número de dejeções está muito dependente do tipo de alimentação da criança (aleitamento materno ou fórmula infantil):

    • Aleitamento materno: o número diário de dejecções pode ser superior ao número de mamadas (falsa diarreia do leite materno), podem ocorrer dejecções espaçadas por vários dias ou com mais de duas semanas de intervalo (falsa obstipação do leite materno).

    • Fórmula Infantil: média de 2 dejeções/dia, variando com o tipo de leite – algumas fórmulas de soja tendem a produzir fezes mais duras e menos frequentes, quando comparadas com fórmulas de leite; fórmulas hidrolizadas geralmente produzem fezes mais moles e mais frequentes.

  • 2 anos de idade: o número médio de dejeções já desce para 2 por dia.

  • 4 anos de idade: o número médio de dejeções é de cerca de 1 por dia.

No que diz respeito à consistência das fezes, estas podem ser categorizadas de acordo com uma escala utilizada para o efeito - Escala de Bristol. Os tipos 3 e 4 correspondem a fezes de consistência normal e o tipo 1 e tipo 2 da Escala de Bristol correspondem a obstipação.


QUE TIPOS DE OBSTIPAÇÃO EXISTEM?

Existem 2 grandes causas de obstipação:

  • Funcional: é aquela que se apresenta sem evidência objetiva de uma condição patológica subjacente. Corresponde a cerca de 95% dos casos de obstipação nas crianças.

  • Orgânica: mais comum em crianças mais novas, deve ser excluída, de forma a adequar a abordagem terapêutica.

PORQUE OCORRE A OBSTIPAÇÃO?

Existem três períodos críticos durante os quais a criança pode desenvolver obstipação:

  • Após a introdução dos cereias e alimentos sólidos na dieta (6 meses – 12 meses).

  • Durante o treino da defecação: o controlo do esfíncter anal varia de criança para criança, mas aos 4 anos cerca de 98% das crianças já apresentam essa capacidade. A sua aquisição implica o desenvolvimento neuropsicossocial da criança, pelo que a obstipação pode surgir na sequência de um treino da defecação prematuro e coercivo por parte dos pais.

  • Início da idade escolar.

  • Na criança maior verifica-se frequentemente indisponibilidade para defecar, ou por querer continuar a brincar, ou por se recusar a utilizar casas-de-banho fora de casa.

  • Mais tarde na adolescência outros fatores podem ser preponderantes: distúrbios alimentares, fatores de stress de origem escolar ou outros e perturbações comportamentais podem promover ou exacerbar a obstipação.

A dejecção dolorosa é frequentemente um trigger para o desenvolvimento de obstipação: quando a criança evita a defecação por associar a mesma a dor, as fezes acumulam-se no recto e tornam-se mais duras e maiores, causando ainda mais dor. Uma dejecção dolorosa na sanita leva frequentemente a fobia desses locais. Assim deve ser rapidamente tratada para evitar o agravamento da obstipação.

QUE MEDIDAS PODEM SER TOMADAS NO TRATAMENTO/PREVENÇÃO DA OBSTIPAÇÃO?

  • Hidratação: Insistir na ingestão diária de líquidos.

  • Alimentação: Garantir que a alimentação seja o mais equilibrada possível, com reforço do consumo diário de vegetais, fruta e outras fontes de fibra (exemplo: sopa 2x/dia, 3 peças de fruta/dia – frutas que podem ajudar: kiwi, ameixa, uvas, tangerinas, laranjas; evitar banana); evitar o consumo excessivo de leite e seus derivados.

  • Exercício físico: A prática regular de atividade física deve ser incentivada já que pode facilitar o trânsito intestinal e, ao fortalecer a musculatura, facilitar o ato de defecação.

  • Rotinas: Os pais devem tentar criar rotinas nos seus filhos- a criança/adolescente deve ir todos os dias à casa de banho, preferencialmente à mesma hora, idealmente 15 a 60 minutos após uma refeição.

  • Postura: Procurar que a criança/adolescente adote uma posição confortável e adequada de modo a facilitar a defecação: os pés devem estar devidamente apoiados no chão.

  • Treino: A criança deve permanecer no bacio/sanita pelo menos 20 minutos, podendo estar entretida com livros ou brinquedos. O reforço positivo é fundamental, devendo haver tranquilidade neste processo. A criança deve ser levada à casa de banho sempre que haja vontade de defecar, evitando comportamentos de retenção.

Existem alguns medicamentos que podem ser usados no tratamento da obstipação que são chamados de laxantes. Existem vários tipos de laxantes, sendo os mais usados os do tipo osmótico (ex.: macrogol), que promovem o movimento de água ao intestino grosso, tornando as fezes moles e fluídas. Estes medicamentos devem ser prescritos pelo seu médico, após avaliação da criança, devendo ser usados em conjunto com as restantes medidas.


É necessário compreender que a obstipação é um problema frequente, o seu tratamento é muitas vezes prolongado, com resultados a longo prazo e com possíveis recaídas; a criança deve ser responsabilizada, mas não culpabilizada.

QUANDO DEVO CONSULTAR O MEU MÉDICO?

  • Se a criança estiver vários dias sem evacuar, de acordo com o seu padrão habitual;

  • Se surgirem dores abdominais muito intensas;

  • Se surgir sangue nas fezes;

  • Quando as queixas são contínuas e persistentes, apesar das medidas implementadas.

 

Autores: André Costa Azevedo, Francisco Ribeiro Mourão, Isabel Martinho; Serviço de Pediatria da ULSAM

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