A gastroenterite aguda é uma doença muito comum em idade pediátrica, afetando quase todas as crianças em algum momento da sua vida. Assim, cuidar de uma criança com gastroenterite aguda é um desafio quase universal na vida dos pais.
O que é?
A gastroenterite aguda (GEA) é uma infeção do trato gastrointestinal (estômago e intestino), caracterizada pela presença de diarreia.
Considera-se que uma criança apresenta diarreia quando se verifica diminuição da consistência das fezes (que ficam mais moles ou líquidas) e/ou um aumento da frequência habitual das dejeções.
Quais são as causas? Como se transmite a doença?
A GEA pode ser provocada por diferentes agentes infeciosos, tais como:
Vírus – são os agentes mais comuns, sendo o rotavírus o mais frequente;
Bactérias – a Salmonella spp é o agente bacteriano mais comum no nosso país;
Parasitas – constituem uma causa rara.
A infeção pode ser transmitida por:
Contacto físico com uma pessoa infetada ou com uma superfície que contenha o agente infecioso;
Ingestão de alimentos ou líquidos contaminados.
Quais são as manifestações clínicas?
As crianças com GEA apresentam diarreia (que pode ter sangue), com os seguintes sintomas possíveis associados:
Vómitos;
Febre;
Dor/cólica abdominal;
Perda de apetite;
Dor de cabeça;
Dores musculares.
Como existe perda de líquidos, a criança pode apresentar sinais físicos de desidratação e é muito importante saber reconhecê-los.
Habitualmente, a doença dura menos de 7 dias, mas pode prolongar-se até 14 dias.
Quando é que a criança deve ser avaliada?
Perante os sintomas descritos previamente, é fundamental recorrer ao médico perante as seguintes situações:
Idade inferior a 2 meses;
Existência de uma doença crónica;
Vómitos persistentes, em que a criança vomita tudo o que come;
Diarreia com sangue;
Diarreia em grande quantidade, com mais de 8 dejeções por dia;
Dor abdominal severa;
Sinais de desidratação.
Como se faz o diagnóstico de GEA? É necessário fazer exames complementares de diagnóstico?
O diagnóstico de GEA é estabelecido através da avaliação clínica, isto é, através dos sintomas e do exame físico do doente. Geralmente, não é necessário executar qualquer exame. Os exames complementares apenas são pertinentes em casos particulares, como nas situações em que a criança necessita de soro endovenoso ou nas crianças que possam ter indicação para tratamentos específicos. Análises de sangue, urina ou fezes poderão ser considerados nestes casos.
Qual é o tratamento da GEA?
A medida mais importante do tratamento (e muitas vezes a única necessária) é a HIDRATAÇÃO da criança.
HIDRATAÇÃO:
A hidratação deve ser assegurada com uma solução de reidratação oral (SRO), que é de venda livre nas farmácias. Estas soluções contêm açúcar e sais em concentração equilibrada, pelo que são preferíveis ao chá, água com açúcar, canja, ou outras preparações caseiras.
A SRO deve ser oferecida a crianças que:
recusam a alimentação
apresentam perdas de líquidos significativas através dos vómitos ou diarreia
A ingestão de SRO deve ser efetuada lenta e calmamente, oferecendo colheres de chá da mesma em intervalos de poucos minutos: aproximadamente 5 ml de 5 em 5 minutos, durante cerca de 2 horas. Se estiver a ser utilizada para compensar um vómito, deve-se aguardar cerca de 30 minutos até iniciar este procedimento, de modo a evitar um novo episódio de vómito.
MEDIDAS ALIMENTARES:
Todos os alimentos (saudáveis) podem ser oferecidos às crianças com GEA, INCLUINDO O LEITE E SEUS DERIVADOS. Na esmagadora maioria dos casos NÃO HÁ qualquer indicação para restringir o consumo de lactose.
São alimentos a EVITAR aqueles que contêm elevado teor de GORDURA e AÇÚCAR, como por exemplo os refrigerantes, porque agravam a diarreia.
MEDIDAS FARMACOLÓGICAS:
Os medicamentos utilizados no tratamento da GEA destinam-se ao controlo dos sintomas. A criança poderá precisar de:
Aliviar a dor e controlar a febre – paracetamol, com ibuprofeno associado se necessário;
Diminuir a diarreia – probióticos e racecadotril (de acordo com prescrição médica).
NÃO devem ser utilizados antiperistálticos (como a loperamida), vitaminas e minerais.
Os antibióticos, de uma forma geral, não são utilizados e devem mesmo ser evitados. Estes ficam reservados a situações raras e particulares.
É possível prevenir a GEA?
São medidas fundamentais para a prevenção da GEA:
Lavagem das mãos com água e sabão após a utilização da casa-de-banho ou a mudança de fralda de um bébé;
Vacinação contra o rotavírus – eficaz na redução da gravidade da GEA
Autores: Vera Gonçalves, Sandrina Martins
Serviço de Pediatria ULSAM
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