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  • Foto do escritorAssoc. Pediátrica Viana

Escabiose - Sarna!

Atualizado: 4 de fev. de 2021

O que é?


A escabiose ou sarna é uma parasitose cutânea provocada pela subespécie hominis, do ácaro Sarcoptes scabiei, e é mais frequente nos meses frios. Esta parasitose atinge qualquer idade, sexo, raça e nível socioeconómico.


O ácaro é exclusivo do homem, e não sobrevive a temperaturas superiores a 50ºC ou mais de 24h sem contacto humano.


Existe uma forma menos frequente, mais grave, denominada escabiose crostosa, característica de indivíduos com défice imunitário.


Como se transmite?


A transmissão ocorre pelo contacto cutâneo direto e prolongado com indivíduos infetados pelo parasita, ou indiretamente pela partilha de vestuário, roupa da cama ou toalhas. A transmissão através de outros objetos é pouco frequente.


Por apresentarem contacto físico próximo em casa ou nos infantários, as crianças desempenham um papel importante na transmissão da infeção entre os diversos elementos da família.

Os animais também podem ser infetados, mas por uma subespécie diferente daquela que afeta os humanos, pelo que a transmissão através de gatos ou cães é desprezível.


Como se manifesta?


O principal sintoma é o prurido (comichão) intenso, com agravamento noturno, uma vez que a temperatura mais elevada facilita o movimento do parasita na pele. Este manifesta-se após o aparecimento das primeiras lesões cutâneas.


As lesões cutâneas são variadas, e incluem pápulas, nódulos, vesículas, pústulas e galerias. As galerias são características desta infeção, e correspondem a pequenos trajetos subcutâneos de coloração avermelhada, que representam o trajeto do ácaro na pele. A presença deste tipo de lesão permite o diagnóstico de certeza de escabiose, mas nem sempre está presente. Localizam-se mais frequentemente nas mãos e pés, nomeadamente, na região entre os dedos, punho, eminência tenar e hipotenar.


Outros locais frequentemente atingidos são: palmas, axilas, antebraços, cintura, região peri umbilical, região genital, nádegas, região anterior das coxas e plantas dos pés.


Em lactentes (até aos 12 meses) e crianças pequenas, o envolvimento é generalizado e atinge, mais frequentemente, o couro cabeludo e a face, o que não acontece em crianças mais velhas, adolescentes e adultos. Nestes casos o diagnóstico pode ser mais difícil.


Como consequência do prurido, pode haver sobre infeção bacteriana das lesões e necessitar de tratamento específico.


Como se faz o diagnóstico?


O diagnóstico é clínico, pelo aspeto das lesões e localização das mesmas, associadas a prurido intenso de predomínio noturno. A existência de coabitantes com sintomas semelhantes pode ajudar a confirmar o diagnóstico. Em casos duvidosos, pode ser necessária a observação ao microscópio para identificação do ácaro.


Qual é o tratamento?


Uma vez feito o diagnóstico é importante ter em conta alguns fatores:

  • É necessário o tratamento de todos os contactos próximos/conviventes na mesma casa mesmo que não apresentem sintomas.

  • O banho e a desinfestação das roupas de cama e do vestuário são fundamentais para o sucesso do tratamento.

  • É necessário lavar toda a roupa, toalhas e lençóis a pelo menos 60ºC ou secar na máquina.

  • A roupa que não pode ser lavada a elevadas temperaturas deve ser fechada num saco de plástico durante pelo menos 3 dias.

  • O prurido e as lesões podem manter-se algumas semanas após o tratamento.

  • As crianças e os adultos podem voltar à escola/local de trabalho no dia a seguir ao tratamento.

  • Os colegas da turma e o professor não precisam de ser tratados a não ser que apresentem sinais ou sintomas de infeção.

  • Não há necessidade de tratar os animais domésticos.


Existem disponíveis diferentes opções terapêuticas, que devem ser ponderadas pelo médico de acordo com a idade e características do doente.


Apresentam-se abaixo as modalidades de tratamento mais utilizadas em idade pediátrica.


Tratamento com Benzoato de Benzilo a 30% (Acarilbial®):

  • Pode ser utilizado apenas em crianças com idade superior a 30 meses.

  • Está contraindicado durante a gravidez e aleitamento materno. Não pode ser aplicado na face, olhos e meato uretral, ou quando exista inflamação da pele.

Modo de aplicação:

  • Aplicação durante 3 noites consecutivas.

  • Após o banho e secagem, aplicar em camada fina, uniforme e com massagem ligeira em toda a pele abaixo do queixo, incluindo as palmas e plantas, com especial atenção aos espaços interdigitais, punhos, unhas das mãos e pés, cotovelos, axilas, mamas, glúteos, zona periumbilical e genital; deixar secar e aplicar segunda camada.

  • Repetir o tratamento após 1 semana.

  • A aplicação deste produto pode provocar sensação de ardência quando aplicado em lesões escoriadas. Após o tratamento, pode haver secura da pele, prurido e desenvolvimento de eczema, pelo que, deve ser mantida uma adequada hidratação da pele, utilizando cremes emolientes. Para alívio do prurido, podem ser utilizados anti-histamínicos.

Tratamento com Enxofre a 6-10% em vaselina:

  • O enxofre é o tratamento mais antigo para a escabiose, sendo utilizado há séculos com esta finalidade, visto ser um fármaco pouco dispendioso e com baixa toxicidade.

  • Pode ser utilizado em qualquer idade e não tem contraindicações conhecidas.

  • Tem como desvantagem o cheiro desagradável e estragar a roupa. No entanto, tem a vantagem de a própria vaselina hidratar a pele, minimizando assim a dermatite traumática após o tratamento.

Modo de aplicação:

  • Aplicação durante três noites consecutivas, realizando lavagem entre cada aplicação (o banho é realizado imediatamente antes da próxima aplicação)

  • Aplicar uma camada fina e em toda a pele abaixo do queixo, incluindo as palmas e plantas, com especial atenção aos espaços interdigitais, punhos, unhas das mãos e pés, cotovelos, axilas, mamas, glúteos, zona peri umbilical e genital.

  • Em crianças com menos de 2 anos de idade, em idosos e em imunodeprimidos deve ser ainda aplicado no couro cabeludo, face, pescoço e orelhas.

  • Repetir o tratamento após uma semana.

 

Autores: Mariana Bastos Gomes, Carolina Germana Silva, Suzana Figueiredo

Serviço de Pediatria da ULSAM

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