O que é a febre?
A febre é um sinal de doença e é um dos motivos mais frequentes de procura de ajuda médica. É muitas vezes o primeiro sinal detetável e por vezes o único, raramente passando
despercebido, dada a mudança de comportamento da criança.
Considera-se febre o aumento da temperatura corporal igual ou superior a 1ºC acima da média da temperatura basal individual. Desconhecendo-se a temperatura basal individual, é aceitável considerar-se como febre qualquer dos seguintes valores de temperatura:
Retal ≥ 38ºC;
Axilar ≥ 37,6ºC.
Causas de febre
A febre, por si só, não é uma doença. Trata-se de uma manifestação do organismo, decorrente do combate às infeções e, por esse motivo, benéfica.
Na criança, a maioria dos casos de febre é causado por doenças víricas benignas e autolimitadas que se resolvem sem necessidade de antibiótico e que raramente duram mais de uma semana. As doenças febris graves são raras e geralmente associam-se a manifestações suficientemente preocupantes para levar ao recurso ao médico em tempo útil.
Tratamento
1. Medidas gerais:
Manter a temperatura ambiente entre 20ºC e 22ºC;
Adequar a atividade à capacidade da criança/adolescente com febre;
Adequar o vestuário à sensação de frio ou de calor;
Oferecer água e/ou outros líquidos;
Alimentar sem forçar;
Por rotina não usar meios físicos para baixar a temperatura na febre (exemplo banho tépido). Na fase de subida da febre o arrefecimento (com banho, compressas húmidas…) está desaconselhado pois não contribui para o controlo da doença, nem para o bem-estar da criança.
2. Medidas específicas:
Os medicamentos antipiréticos (medicamentos para baixar a temperatura) não são necessários se a criança estiver confortável;
Na criança que mantém a temperatura elevada com desconforto, e após a aplicação das medidas gerais, poderá ser efetuada a seguinte medicação:
- Paracetamol: fármaco de 1.ª linha
- Ibuprofeno: indicado quando não há resposta ao paracetamol ou recorrência da febre com desconforto antes do tempo mínimo de nova administração (4 horas); e em caso de alergia ao paracetamol.
A administração intercalada de paracetamol e ibuprofeno, por rotina, é uma medida sem justificação. Por rotina deve praticar-se a monoterapia antipirética.
De notar que os efeitos de ação do paracetamol e do ibuprofeno atingem o seu pico até cerca de 2-3 horas após a administração. Numa fase inicial até é frequente que se constate uma temperatura superior à inicial; assim, não se recomenda a administração de outro antipirético sem que o primeiro tenha tido tempo de atuar.
Também é relativamente frequente que a temperatura não volte para valores normais
mesmo com antipiréticos. No entanto, considera-se que o antipirético é eficaz se baixar a
temperatura de 1º a 1,5ºC dentro de 2 a 3 horas.
O que fazer quando surge febre?
Vigiar e estar atento ao aparecimento de sinais de alarme (ver adiante);
Implementar as medidas gerais;
Na criança/adolescente que mantém a temperatura elevada com desconforto, e após a aplicação das medidas gerais, administrar um antipirético, utilizando de preferência a monoterapia com paracetamol; a dose de antipirético deve ser calculada com base no peso e não na idade.
Recorrer a um serviço de saúde em caso de febre e sinais de alarme.
Sinais de Alarme que devem motivar observação médica
Febre em criança com idade inferior a 3 meses (idade inferior a 3 meses de idade corrigida se a criança nasceu prematura);
Choro inconsolável/irritabilidade mantida;
Gemido persistente;
Sonolência excessiva e prolongada;
Convulsão;
Aparecimento de manchas na pele nas primeiras 24-48 horas de febre;
Dificuldade respiratória;
Vómitos repetidos entre as refeições;
Recusa alimentar completa superior a 12 horas;
Dor ou dificuldade em mobilizar um membro ou alteração da marcha;
Temperatura axilar ≥ 39ºC, ou retal ≥ 40ºC, se idade < 6 meses; Temperatura axilar ≥ 40ºC, ou retal ≥ 41ºC, se idade ≥ 6 meses;
Febre com duração superior a 5 dias completos sem sinais de melhoria (picos febris mais espaçados e/ou mais baixos) ou reaparecimento de febre após 2 a 3 dias de apirexia;
Febre na presença de patologia crónica grave (ex: malformações cardíacas, imunodeficiência, tratamentos com quimioterapia, imunossupressores ou terapêuticas biológicas).
Mensagens-chave
A febre, por si só, não é uma doença e trata-se de uma manifestação do organismo, decorrente do combate às infeções e, por esse motivo, benéfica.
Não usar, por rotina, meios físicos para baixar a temperatura na febre (exemplo banho tépido).
Os medicamentos antipiréticos não são necessários se a criança estiver confortável. No entanto se a criança/adolescente mantiver a temperatura elevada com desconforto, e após a aplicação das medidas gerais, será benéfico administrar um antipirético, utilizando de preferência a monoterapia com paracetamol.
Deve recorrer a um serviço de saúde em caso de febre com sinais de alarme.
Autora: Mariana Branco
S. Pediatria ULSAM
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