O que é o âmbar?
Apesar de ser chamado de pedra, o âmbar báltico é, na verdade, uma resina fossilizada de árvores de 50 milhões de anos, proveniente de uma grande variedade de pinheiros (pinus succinites) que desapareceram há milhões de anos. Acredita-se que o âmbar, que tem origem orgânica, seja conhecido e utilizado pelo homem desde a Idade da Pedra.
Pensa-se que o ácido sucínico, que está presente no âmbar com uma concentração de até 8%, age como analgésico e anti-inflamatório quando absorvido pela pele do bebé. No entanto, não há evidência que o ácido succínico passe para o corpo dessa forma.
Quais as justificações para o seu uso?
Estes colares são vendidos em lojas de pedras semipreciosas, blogues, sites na Internet ou páginas do Facebook. Existe cada vez mais influencers digitais a publicitá-los, estão a tornar-se moda e um “símbolo de pertença social”. Podem custar entre 15 e 25 euros e são apresentados como um remédio natural tradicional para a dor e inflamação provocada pela erupção dentária no bebé.
Os fabricantes dizem que o nó entre cada conta reduz a probabilidade de estas se soltarem, e que as contas de âmbar são do tamanho de ervilhas e tem maior probabilidade de ser engolidas do que aspiradas. Segundo estes, o fecho usado para conectar as contas abre-se sob tensão, impedindo o estrangulamento. Mas será isto verdade?
Porque NÃO estão recomendados?
Alguns estudos realizados comprovaram que não há nenhuma evidência científica que sugira que o ingrediente ativo ácido succínico possa ser libertado das contas do colar para a pele humana. Para além disso, estes colares estão altamente colonizados por bactérias que podem tornar-se patogénicas em condições particulares.
Um estudo original testou a abertura destes colares com diferentes pesos e, cerca de 80% falhou a abrir com a força necessária para estrangulamento de uma criança. Há já vários casos reportados na literatura de mortes em crianças por estrangulamento e asfixia devido ao uso destes colares.
A Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) considera que não é recomendado que as crianças pequenas usem fios ou outras coisas à volta do pescoço. A Food and Drug Administration (FDA) apresenta-se contra o uso de colares ou qualquer outra peça de joalharia para alívio da dor da erupção dentária.
O que fazer então quando o seu filho tem dores devido à erupção dentária?
A atitude de pais e cuidadores deverá ser de serenidade, confortando o bebé ou criança de modo a que se sinta segura e confortável.
Poderão:
Utilizar técnicas de distração e relaxamento com brinquedos ou atividades diferentes, aconchegar ou embalar.
Oferecer alimentos frios. Poderá utilizar-se uma rede de alimentação - estes dispositivos permitem colocar alimentos moles de preferência frios, como a banana, dentro da rede de forma a evitar que o bebé se engasgue. ATENÇÃO: NÃO devem ser colocados no congelador sob pena de estes causarem queimaduras nas gengivas!
Massajar com os dedos bem lavados ou escovas ou dedeiras de silicone com saliências (massagem e limpeza das gengivas e dentes).
Anéis de massagem gengival ou mordedores – são desenhados para a função de massagem gengival além de servirem de brinquedo de distração. Existe imensa variedade no mercado, mas só deverão adquirir os homologados. Dispõem de saliências que auxiliam na massagem, mas sem danificar a gengiva.
Quando a dor não é aliviada com a utilização dos métodos anterior indicados, poderá ser
necessário o uso de analgésicos como o paracetamol e ibuprofeno ou anestésicos tópicos.
Existem no mercado vários bálsamos de aplicação local nas gengivas, contendo por exemplo hortelã-pimenta, aloé vera, ácido glicirretínico, ácido hialurónico, açafrão, entre outros.
Não estão recomendados produtos homeopáticos, colares de âmbar e produtos com
benzocaína.
Conclusão
Não há qualquer evidência científica de que os colares de âmbar ajudem a diminuir o desconforto ou inflamação da dentição.
Os colares, de âmbar ou de outro material, não devem ser usados em crianças antes dos quatro anos, por risco de asfixia.
A idade da dentição, dos seis meses aos dois anos e meio, é um idade em que a criança se mexe muito, mudando constantemente de posição, havendo o perigo de o colar se prender em qualquer obstáculo e estrangular a criança.
Qualquer forma de terapêutica sem evidência científica, associada a moda e status social não merecem que coloque em risco a vida do seu filho.
Qualquer dúvida, fale com o médico do seu bebé.
Autoras - Ana Rafaela Gave e Sofia da Silva.
Medicina Geral e Familiar
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